Vergílio Ferreira



A sala Vergílio Ferreira é parte integrante da Biblioteca Municipal de Gouveia. Nesta poderemos encontrar cerca de oito mil exemplares que faziam parte do espólio pessoal do escritor. Muitos destes exemplares estão anotados pelo próprio escritor, sublinhando aspectos em livros que acharia importantes. É de destacar também a quantidade de dedicatórias que se encontram nos mesmos. A sala conta também com algumas pinturas como um retrato de José Resende e outros objectos pessoais do escritor, dos quais destacamos a poltrona onde o escritor costumava escrever, canetas,o violino e várias medalhas e condecorações que foi recebendo ao longo do tempo. Esta sala é frequentada sobretudo por estudiosos da obra de Vergílio Ferreira e por estudantes durante visita de estudos.

Nasceu em Melo, no concelho de Gouveia, em Janeiro de 1916, filho de António Augusto Ferreira e de Josefa Ferreira. A ausência dos pais, emigrados nos Estados Unidos, marcou toda a sua infância e juventude. Após uma peregrinação a Lourdes, e por sugestão dos familiares, frequenta o Seminário do Fundão durante seis anos. Daí sai para completar o Curso Liceal na cidade da Guarda. Ingressa em 1935 na Faculdade de Letras a Universidade de Coimbra, onde concluirá o Curso de Filologia Clássica em 1940. Dois anos depois, terminado o estágio no liceu D. João III, nesta mesma cidade, parte para Faro onde iniciará uma prolongada carreira como docente, que o levará a pontos tão distantes como Bragança, Évora ou Lisboa.
Este homem reuniu em si diversas facetas, a de filósofo e a de escritor, a de ensaísta, a de romancista e a de professor. Contudo, foi na escrita que mais se destacou, sendo dos intelectuais contemporâneos mais representativos. Toda a sua obra está impregnada de uma profunda preocupação ensaística.
Vergílio foi também um existencialista por natureza. A sua produção literária reflecte uma séria preocupação com a vida e a cultura. Este escritor confessou a Invocação ao meu Corpo (1969) trazer em si “ a força monstruosa de interrogar”, mais forte que a força de uma pergunta. ”Porque a pergunta é uma interrogação segunda ou acidental e a resposta a espera para que a vida continue. Mas o que eu trago em mim é o anúncio do fim do mundo, ou mais longe, e decerto, o da sua recriação”. Este pensador tecia reflexões constantes acerca do sentido da vida, sobre o mistério da existência, acerca do nascimento e da morte, enfim, acerca dos problemas da condição humana.
Ainda nos restou o imenso homem, que ficou dentro da obra, pois, como o próprio declarou, o autor nunca pode ser dissociado da sua obra porque nela vive, respira e dela fica impregnado. Vergílio entregava-se à escrita de corpo e alma, tinha essa obsessão; após a qual se sentia vazio, mas depois de um livro voltava a renovar-se para dar corpo a outro. “Escrever, escrever, escrever. Toma-me um desvairamento como o de ébrio, que tem mais sede com o beber para o beber, ou do impossível erotismo que vai até ao limite de sangrar. Escrever. Sentir-me devorado por essa bulimia, a avidez sôfrega que se alimenta do impossível”.(Pensar, 1992).
A obra de Vergílio Ferreira recebeu influências do existencialismo de Satre, de Marco Aurélio, Santo Agostinho, Pascal, Dostoievski, Jaspers, Kant e Heidegger. Os clássicos gregos e latinos como Ésquilo, Sófocles e Lucrécio, também assumiram uma importância vital nos pensamentos deste escritor. No livro Mito e Obsessão na Obra de Vergílio Ferreira, Eduardo Lourenço afirma que “faz parte que se considere Vergílio Ferreira numa perspectiva ideológica, como autor de ruptura e tentativa de superação e reformulação do ideário neo-realista; numa perspectiva metafísica, como romancista do existencial no sentido que ao termo foi dado pela temática chamada existencialista; e, finalmente, numa perspectiva simbólica, como romancista de uma espécie de niilismo criador ou, talvez melhor, do humanismo trágico ou tragédia humanista”.
Os romances Uma Esplanada sobre o Mar (1987), pelo qual recebeu o prémio da Associação Portuguesa de Escritores, e Em Nome da Terra (1990) retomam o tema da transitoriedade da vida, sujeita ao passar do tempo. Em 1993 edita em Na Tua Face, uma das suas obras mais exemplares, em que desenvolve uma reflexão aprofundada acerca da beleza e da sua transitoriedade. Este escritor, que aos 80 anos declarou “ vou entrar a escrever no paraíso”, veio falecer a 1-3-1996. Deixou um livro entregue ao editor, publicado posteriormente intitulado Cartas a Sandra (1996), em que se pode reencontrar a personagem Xana, filha do narrador do romance Para Sempre, apresentando ao leitor cartas escritas pelo pai à sua mãe. Após a morte do escritor a Câmara Municipal de Gouveia e a Universidade de Évora criaram prémios literários em memória de Vergílio Ferreira. O espólio do escritor composto por prémios, livros e alguns objectos pessoais foi doado a Gouveia, concelho de onde Vergílio Ferreira era natural e estão em exposição na Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira. O seu espólio de originais manuscritos de quase todos os seus romances foi doado à Biblioteca Nacional.


"Ficção"

O caminho fica longe; Onde tudo foi morrendo; Vagão «J»; Mudança; A face sangrenta; Manhã submersa; Aparição; Cântico final; Estrela polar; Apelo da noite; Alegria breve; Nítido nulo; Apenas homens; Rápida, á sombra; Contos; Signo sinal; Para sempre; Uma esplanada sobre o mar; Até ao fim; Em nome da terra; Na tua face; Cartas a Sandra.





"Ensaio"

Sobre o Humorismo de Eça de Queiroz; Do mundo original; Carta ao futuro; Da fenomenologia a Sartre; André Malraux (Interrogação ao destino); Espaço do invisível I; Inovação ao meu corpo; Espaço do invisível II; Espaço do invisível III; Um escritor apresenta-se; Arte tempo.





"Diário"

Conta-corrente I; Conta-corrente II; Conta-corrente III; Conta-corrente IV; Conta-corrente V; Conta-corrente I – Nova série I; Conta-corrente I – Nova série II; Conta-corrente I – Nova série III; Conta-corrente I – Nova série IV; Pensar.




A Câmara Municipal de Gouveia desde algum tempo instituiu o prémio Vergílio Ferreira, na categoria de romance a fim de homenagear o escritor natural da freguesia de Melo, naquele concelho. A obra vencedora do concurso literário tem um valor pecuniário de cinco mil euros sendo divulgada em Agosto durante as Festas do Senhor do Calvário de Gouveia. O prémio literário Vergílio Ferreira foi criado em 1997 tendo como objectivo: defender e divulgar a língua portuguesa. Inicialmente distinguia um romance inédito, mas a partir de 2000 passou a integrar alternadamente um romance e um ensaio literário. Desde 2002 o mesmo concurso inclui em anos consecutivos a categoria não literária de Estudos Locais de Património, História e Cultura do Concelho de Gouveia.

"Um dia depois do outro" (1998 - Margarida Marques)


"A reconquista de Olivença" (1999 - Ascêncio de Freitas)

"O claustro do silêncio" (2001 - Luis Rosa)

"Clenardo e o Príncipe" (2003 - Serafim Ferreira)

Maria Gabriela Llansol, Diário de um Real-Não-Existente" (2004 - Carlos Rodrigo da Silva Vaz)

"Estação Ardente" (2006 - Julio Conrado)




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